
O setor de seguros está passando por uma transformação significativa. Com seguro como tema central, novas regulamentações e inovações estão moldando o mercado. Vamos explorar como essas mudanças impactam o futuro das seguradoras e o que isso significa para você.
O Setor de Seguros em Ponto de Virada: Desafios e Novas Rotas
O mercado de seguros está em plena efervescência, vivendo um período de grandes transformações. Fatores como um cenário macroeconômico instável, a chegada de novas regras, as mudanças climáticas e o surgimento de riscos inéditos, como os ataques cibernéticos, estão forçando as seguradoras a repensar tudo: desde como operam e geram receita até seu papel fundamental na sociedade. Para a próxima década, a busca por novos mercados, fusões e aquisições, e o avanço tecnológico se tornam pilares essenciais.
Mudanças Regulatórias e o Novo Cenário
As seguradoras brasileiras estão se adaptando a um conjunto de novas regras que a Superintendência de Seguros Privados (Susep) implementou. Essas mudanças incluem a Lei Complementar 213/2025, que agora regulamenta cooperativas e associações de proteção veicular, e o novo Marco Legal dos Seguros, a Lei 15.040/2024. Além disso, há a exigência de um investimento mínimo em créditos de carbono e a necessidade de se adequar ao conceito de open insurance, que promete mais abertura e compartilhamento de dados.
Alessandro Octaviani, superintendente da Susep, explica que a autarquia trabalha para que essa transição aconteça de forma clara, previsível e com muito diálogo. A fiscalização vai seguir os padrões de prudência e conduta já conhecidos, mas agora com a responsabilidade de supervisionar também as novas administradoras de operações mutualistas. O grande objetivo, segundo ele, é aumentar a concorrência, oferecer mais escolhas aos consumidores e manter a estabilidade de todo o mercado.
Riscos Climáticos e Suas Implicações
As alterações climáticas não são mais uma preocupação distante; elas já impactam diretamente o setor de seguros. Eventos extremos, por exemplo, aumentam a frequência e a intensidade dos sinistros, forçando as seguradoras a recalibrar suas avaliações de risco e a desenvolver produtos mais resilientes. Esse cenário, embora desafiador, também abre portas para novas soluções e coberturas especializadas, transformando o risco em uma oportunidade para inovar e proteger ainda mais os segurados.
Avanço Tecnológico e Inovação
A tecnologia se tornou uma aliada indispensável para as seguradoras. A digitalização acelerada e a inteligência artificial (IA) estão revolucionando a forma como as empresas operam. A IA, por exemplo, agiliza a análise de propostas, reduz o tempo para emitir apólices, melhora o atendimento ao cliente com chatbots inteligentes, acelera a regulação de sinistros, ajuda a combater fraudes e permite a criação de produtos muito mais personalizados. É um salto de eficiência e personalização que beneficia a todos.
O Novo Perfil dos Consumidores de Seguros
Com tantas mudanças, o consumidor também evoluiu. Ele agora busca mais do que apenas uma apólice; quer soluções flexíveis, personalizadas e que se encaixem em seu estilo de vida digital. A expectativa é por processos mais rápidos, transparentes e um atendimento que realmente entenda suas necessidades. Esse novo perfil exige que as seguradoras invistam em plataformas intuitivas e em uma comunicação mais direta e eficaz, construindo uma relação de confiança e parceria.
Oportunidades de Crescimento no Brasil
O Brasil se destaca no cenário global como um mercado com enorme potencial para o setor de seguros. Apesar da volatilidade econômica mundial, o país oferece uma estabilidade maior em comparação com outros mercados emergentes. O setor de seguros representa apenas 3% do PIB brasileiro (sem contar os planos de saúde), enquanto em países como Reino Unido, Itália, França, Espanha e Alemanha, essa média chega a 8%. Dyogo Oliveira, presidente da Confederação Nacional das Seguradoras (CNseg), vê esse “gap brasileiro de proteção” como um convite claro à inovação e à expansão da oferta de produtos.
Desafios Enfrentados Pelas Seguradoras
Apesar das oportunidades, as seguradoras enfrentam obstáculos significativos. Além do ambiente macroeconômico e dos riscos emergentes, a complexidade regulatória é um grande desafio. Gustavo Laença, diretor de seguros da Capgemini, aponta que a regulação está entre os três maiores entraves à inovação, perdendo apenas para a dependência de sistemas antigos e a dificuldade de integrar diferentes áreas da empresa. Para ele, a capacidade de priorizar projetos importantes, mesmo sob pressão regulatória, é crucial para o crescimento em tempos incertos.
A Importância da Digitalização
A digitalização não é mais uma opção, mas uma necessidade. Ela permite que as seguradoras otimizem processos, reduzam custos e ofereçam uma experiência mais fluida e eficiente aos clientes. Desde a contratação de um seguro até a comunicação em caso de sinistro, a digitalização simplifica cada etapa, tornando o acesso aos serviços mais fácil e rápido. É a base para a inovação e para atender às expectativas do consumidor moderno.
Inteligência Artificial no Mercado de Seguros
A inteligência artificial (IA) está redefinindo o mercado de seguros. Suas aplicações são vastas e impactantes: ela acelera a análise de riscos para a subscrição de apólices, diminui o tempo de emissão, aprimora o atendimento ao cliente por meio de chatbots inteligentes, agiliza a regulação de sinistros, fortalece o combate a fraudes e permite a personalização de produtos de forma inédita. A IA não só otimiza operações, mas também cria um valor agregado significativo para seguradoras e clientes.
Estratégias de Crescimento das Seguradoras
As grandes seguradoras estão adotando estratégias multifacetadas para navegar neste cenário de transformação. Ivan Gontijo, presidente do grupo Bradesco Seguros, destaca que a empresa aposta em inovação, regionalização, eficiência e na educação sobre a cultura do seguro. Para ele, o crescimento vai além dos números financeiros, focando na relevância das soluções na vida das pessoas. Em 2025, o grupo reforçou investimentos em tecnologia, ampliou parcerias e intensificou sua presença em regiões fora dos grandes centros, adaptando produtos e serviços às realidades locais.
Jose Adalberto Ferrara, presidente da Tokio Marine, menciona um investimento anual de cerca de R$ 140 milhões em tecnologia e transformação digital. A estratégia da Tokio Marine se concentra na adaptação inteligente às mudanças regulatórias e climáticas, na diversificação do portfólio, na digitalização e na sustentabilidade. Esse conjunto de ações visa não só enfrentar os desafios, mas também explorar novas oportunidades de mercado.
A Diversificação de Produtos e Serviços
A diversificação é uma tática crucial para muitas seguradoras. A Porto Seguro, por exemplo, busca reduzir sua dependência do ramo de automóveis, onde é líder, expandindo sua atuação para banco, consórcios, serviços e saúde. Luiz Arruda, vice-presidente comercial e marketing do grupo, enfatiza que a empresa foca em entender a realidade local através de encontros regionais para criar soluções mais assertivas.
No Itaú Unibanco, o modelo de bancassurance é o carro-chefe. Eduardo Domeque, diretor de seguros, relata que a empresa dobrou seus resultados em quatro anos, oferecendo produtos próprios e de parceiras em uma plataforma aberta, tanto para o varejo quanto para empresas. Atualmente, o Itaú Unibanco opta por não trabalhar com corretores independentes, focando na consultoria de especialistas em gestão de risco e na oferta contextualizada de seguros.
A MAG Seguros, sob a liderança do CEO Helder Molina, investe na diversificação de canais, incluindo corretores, cooperativas e plataformas digitais. A empresa também se dedica à capacitação de corretores e a estratégias para popularizar o seguro de vida, que ainda é pouco difundido no Brasil – apenas 10% dos brasileiros possuem um. Molina destaca o treinamento bianual de 500 a 1.000 corretores e ações para tornar o seguro de vida individual mais acessível.
Patricia Freitas, CEO da Prudential do Brasil, reforça a importância do seguro de vida como ferramenta de planejamento financeiro para proteger empresas e famílias. A Prudential aposta em sua rede franqueada, com mais de 2.000 unidades, e em parcerias estratégicas com empresas como Mercado Pago e XP, além de corretores de seguros. A centralidade no cliente é vista como o segredo para a longevidade da Prudential no mundo e no Brasil.
O Futuro do Setor de Seguros
O futuro do setor de seguros será moldado pela capacidade das empresas de se adaptarem rapidamente a um ambiente em constante mudança. Aquelas que conseguirem integrar inovação, tecnologia e uma compreensão profunda das necessidades dos clientes estarão à frente. A agilidade para responder a novas regulamentações, a proatividade em relação aos riscos emergentes e a habilidade de oferecer valor tangível serão os diferenciais que determinarão os líderes da próxima fase de crescimento no Brasil e no mundo.
Fonte: Valor Globo

Astério Vieira é Diretor da Prime Valle, empresa fundada em 1996 e referência nacional em gerenciamento de riscos, seguros e logística. Com mais de 25 anos de experiência no setor, atua com foco em soluções para transporte, frota, danos ambientais e seguros aeronáuticos, oferecendo confiança e tranquilidade a pessoas físicas e jurídicas em todo o Brasil.