
A seguro rural tem enfrentado uma queda significativa nos últimos anos, impactando diretamente os produtores. Vamos entender como isso afeta o agronegócio e quais soluções estão sendo propostas.
A Cobertura do Seguro Rural Diminui em Meio a Desafios Climáticos
Nos últimos cinco anos, a proteção oferecida pelo seguro rural no Brasil sofreu uma queda de quase 50%. Essa redução acontece em um momento crítico, onde o agronegócio enfrenta desafios crescentes devido às mudanças climáticas, que trazem eventos extremos e imprevisíveis para as lavouras e criações.
O Impacto das Mudanças Climáticas no Campo
O aquecimento global tem deixado sua marca no setor agrícola com exemplos claros e recentes. Secas severas, por exemplo, devastaram plantações de café em várias nações, impulsionando os preços globais da commodity. Da mesma forma, temperaturas elevadas em diversas regiões do planeta desorganizaram a produção de ovos, resultando em um aumento de cerca de 40% no custo do alimento no início do ano. E a preocupação não para por aí: projeções indicam que o fenômeno La Niña pode afetar o Centro-Norte do Brasil em fevereiro de 2026, trazendo chuvas intensas justamente no período da colheita da soja.
Mauricio Masferrer, diretor executivo de negócios corporativos da Allianz Seguros, destaca que esses fenômenos naturais extremos alteram significativamente os padrões de chuva, impactando de forma variada as carteiras de seguros. Para as seguradoras, o grande desafio é conseguir precificar corretamente os riscos para manter a saúde financeira, o que as leva a buscar soluções tecnológicas avançadas.
Tecnologia e Inovação no Seguro Agrícola
As seguradoras estão investindo pesado em tecnologia para lidar com a complexidade dos riscos climáticos. A Allianz Seguros, por exemplo, utiliza modelos geoespaciais que analisam dados históricos de performance do solo, cobertura vegetal e índices de pluviosidade. Além disso, emprega análises preditivas e séries temporais, incorporando variáveis climáticas externas, e mantém um monitoramento contínuo do clima com base em informações de consultorias especializadas.
A BB Seguros, líder no segmento rural no país, oferece aos produtores o sensoriamento remoto. Essa ferramenta permite que os segurados acompanhem suas lavouras por meio de imagens de satélite, além de fornecer previsões climáticas, análises de mercado, cotações e simuladores de custos e rentabilidade da safra.
As inovações não se limitam apenas à tecnologia. Gláucio Nogueira Toyama, presidente da comissão de seguro rural da FenSeg e head de agronegócio da Swiss Re, menciona iniciativas como um seguro específico para febre aftosa, desenvolvido para o Rio Grande do Sul. Para a bacia leiteira, um segmento altamente concentrado, programas foram criados para garantir a receita do pecuarista, cobrindo não apenas a perda do animal, mas também a receita equivalente a seis meses de produção de leite.
O Desafio do Programa de Subvenção ao Prêmio (PSR)
Apesar das inovações, o acesso dos produtores ao seguro rural tem sido dificultado. Nos últimos cinco anos, a cobertura caiu drasticamente devido aos cortes no orçamento do Programa de Subvenção ao Prêmio do Seguro Rural (PSR). Neste ano, o programa recebeu R$ 1,06 bilhão, um valor muito aquém dos R$ 4 bilhões que os produtores esperavam. Para piorar, o governo, buscando cumprir a meta fiscal, bloqueou e contingenciou R$ 445,1 milhões desses recursos.
Guilherme Rios, assessor técnico da Comissão Nacional de Política Agrícola da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), alerta para uma “redução expressiva na área segurada”, o que intensifica a queda observada nos últimos anos. Ele ressalta que isso ocorre justamente quando os desafios climáticos aumentam, expondo os produtores a maiores dificuldades e elevando a demanda por ferramentas de gestão de riscos, que nem sempre estão disponíveis.
A Realidade da Área Segurada e as Propostas de Modernização
Gláucio Nogueira Toyama aponta que, no auge do PSR em 2022, a área segurada alcançou cerca de 14 milhões de hectares. Em 2024, esse número caiu para 7 milhões de hectares, e a estimativa para este ano é uma redução ainda mais acentuada, ficando entre 4 e 5 milhões de hectares. Toyama enfatiza que, mesmo em seus melhores momentos, o seguro agrícola cobriu apenas 10% da produção brasileira.
Para mudar esse cenário, o setor defende que o seguro rural seja tratado como uma política pública essencial. Um ponto crucial é o avanço do Projeto de Lei nº 2.951/2024, da senadora Tereza Cristina (PP-MS), que propõe a modernização do seguro rural. Entre as principais ideias, está a exigência de uma mitigadora de risco (como o seguro agrícola, florestal ou pecuário) para toda operação de crédito rural que conte com participação governamental. Outro pilar do PL é a garantia de um plano de subvenção plurianual, sem contingenciamentos, para dar previsibilidade e segurança aos produtores.
O Ministério da Agricultura e Pecuária, contatado para comentar sobre o desbloqueio do PSR e outras medidas de incentivo, não se manifestou até o momento da publicação.
Fonte: Valor Globo

Astério Vieira é Diretor da Prime Valle, empresa fundada em 1996 e referência nacional em gerenciamento de riscos, seguros e logística. Com mais de 25 anos de experiência no setor, atua com foco em soluções para transporte, frota, danos ambientais e seguros aeronáuticos, oferecendo confiança e tranquilidade a pessoas físicas e jurídicas em todo o Brasil.