
O setor de seguros brasileiro está passando por transformações significativas. Com a pressão de riscos climáticos e um ambiente econômico desafiador, as seguradoras estão investindo em tecnologia e inovação para se adaptar e ampliar a cobertura. Vamos explorar como essas mudanças estão moldando o futuro do setor.
O Futuro dos Seguros no Brasil: Inovação e Tecnologia para 2026
O setor de seguros no Brasil está em plena efervescência, enfrentando um cenário complexo que exige adaptação e muita criatividade. Com a entrada em vigor do novo Marco Legal dos Seguros em dezembro do ano passado e um ambiente econômico que não para de desafiar, as seguradoras estão com os olhos fixos em 2026. A palavra de ordem é clara: tecnologia e inovação são as chaves para superar os obstáculos e, mais importante, para diminuir a enorme lacuna de proteção que ainda existe no país.
Desafios e a Importância da Tecnologia para o Setor
Em 2025, o mercado de seguros se viu diante de uma pressão sem precedentes. Quem não estiver na ponta da tecnologia, corre o risco de ficar para trás. As empresas estão focando em uma disciplina técnica rigorosa, na digitalização de seus processos e, acima de tudo, em aprimorar a experiência do cliente. O objetivo é ambicioso: expandir a base de segurados e reduzir a diferença entre o que é coberto e o que realmente precisa de proteção. Para se ter uma ideia, apenas 3% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro é coberto por seguros (excluindo saúde), enquanto em países europeus essa média salta para 8%.
Inovação e Resposta aos Riscos Climáticos
As mudanças climáticas não são mais uma ameaça distante; elas se tornaram uma realidade diária e crescente. Dyogo Oliveira, presidente da Confederação Nacional das Seguradoras (CNseg), destaca que o setor está na linha de frente desses impactos. Por isso, a CNseg tem trabalhado para ampliar a cobertura, incentivar soluções inovadoras e fortalecer a resiliência econômica, climática e social do Brasil. Entre as iniciativas, estão a proposta de um Seguro Social contra Catástrofes, que visa indenizar rapidamente famílias vulneráveis, o estímulo a “green bonds” para infraestruturas mais resistentes e a criação de um Hub de Inteligência Climática para auxiliar as seguradoras no desenvolvimento de novos produtos.
Ceticismo e a Lacuna de Cobertura no Brasil
Apesar de todos os esforços, o ceticismo em relação aos seguros ainda é um grande desafio. Jovens, trabalhadores autônomos e pequenas e médias empresas (PMEs) frequentemente se perguntam se o seguro é um gasto desnecessário ou se a indenização será realmente paga. Essa percepção tem sérias consequências, especialmente para coberturas essenciais como patrimônio, responsabilidade civil, saúde e vida.
Um exemplo marcante foi o das enchentes no Rio Grande do Sul, onde um prejuízo estimado em R$ 100 bilhões resultou em apenas R$ 6 bilhões indenizados, ou seja, uma cobertura de meros 6%. Em contraste, nos Estados Unidos, a cobertura foi de 58%, e na Europa, entre 38% e 45%. Para mudar esse cenário, o Brasil precisa de mecanismos como os “cat bonds” (títulos de catástrofe) para atrair capital privado e ampliar a proteção, conforme apontado pelo advogado Cassio Amaral, do Machado Meyer Advogados.
Destaques do Valor 1000: Bradesco, SulAmérica e Porto
Bradesco Seguros: Liderança e Consistência
O grupo Bradesco Seguros mantém sua liderança isolada no mercado, demonstrando consistência e resultados sólidos. Ivan Gontijo, presidente do grupo, ressaltou os avanços no primeiro semestre de 2025 em planos de saúde regionais, seguros de vida e prestamista, além da expansão em ramos elementares como condominial, empresarial e habitacional. Com um retorno médio sobre o patrimônio líquido acima de 20% e uma melhora no índice combinado, a estratégia para 2026 foca em diversificação, inovação, previdência, vida individual, PMEs e soluções para riscos climáticos e digitais.
SulAmérica: Digitalização e Foco no Cliente
A SulAmérica Vida, Previdência e Investimentos, segunda colocada no ranking, tem a digitalização como pilar e o cliente no centro de sua estratégia. O CEO Marcelo Mello destacou um primeiro semestre de 2025 de consolidação e crescimento, com foco em eficiência operacional e expansão. Para 2026, a empresa prioriza soluções integradas para empresas, combinando vida coletivo, saúde e odonto, e fortalecendo a atuação consultiva dos corretores.
Porto: Ampliando o Acesso à Proteção
A Porto, terceira maior em 2024, encerrou o primeiro semestre de 2025 com receitas e prêmios de R$ 5,4 bilhões, com crescimento de 17% em vida e 6% em patrimoniais, além de adicionar 165 mil veículos à frota segurada. O CEO Rivaldo Leite enfatiza a ampliação do acesso à proteção com soluções para diversos perfis, incluindo a Azul Seguros para públicos ainda não segurados. A companhia aposta em produtos de entrada, no App Porto (com mais de quatro milhões de usuários ativos) e no corretor como protagonista. Para 2026, o foco é a expansão regional, soluções digitais e produtos acessíveis.
Outros Players e Suas Estratégias para 2026
Mapfre: Democratização e Sustentabilidade
Para a espanhola Mapfre, o Brasil representa a segunda maior operação global. Felipe Nascimento, CEO da Mapfre no Brasil, destacou avanços em riscos industriais e massificados, além de sinais de recuperação no agronegócio. A empresa está comprometida em democratizar a cobertura de vida e investe em produtos sustentáveis, seguro automóvel modular e novas soluções para PMEs. A parceria com o Banco do Brasil é um diferencial competitivo, e para 2026, o foco estará no agro, seguros massificados e vida.
Brasilseg: Crescimento e Produtos Sociais
A Brasilseg, parte da BB Seguros, registrou um aumento de 25,4% no lucro líquido no segundo trimestre de 2025, respondendo por 41,9% do lucro consolidado da BB Seguridade. As prioridades para o segundo semestre de 2025 incluem residencial, habitacional, vida individual e prestamista, além de seguros agrícolas com modelos mais preditivos. A empresa também investe em produtos de viés social e proteção personalizada para mulheres e idosos, com suporte de inteligência de dados e automação.
Tokio Marine: Diversificação e Tecnologia
A Tokio Marine Seguradora subiu uma posição no ranking Valor 1000, faturando R$ 7 bilhões no primeiro semestre de 2025, um avanço de 9%. Líder em auto, expandiu em patrimoniais e seguros de pessoas, com crescimentos notáveis em condomínio (57%), fiança locatícia (36%) e residencial (12,5%). O CEO José Adalberto Ferrara mencionou investimentos anuais de R$ 140 milhões em tecnologia e o lançamento do seguro de M&A em 2025. A estratégia para 2026 inclui adaptação regulatória e climática, diversificação de portfólio, transformação digital e sustentabilidade, com foco em apólices mais acessíveis e nos corretores.
Allianz Seguros: Transformação e Crescimento Acelerado
A Allianz Seguros apresentou um crescimento três vezes superior ao mercado nos primeiros cinco meses de 2025, superando R$ 1 bilhão em prêmios em um único mês. O presidente Eduard Folch atribui esse sucesso a um projeto de transformação iniciado em 2024, que redesenhou estruturas, acelerou a digitalização e fortaleceu parcerias. A estratégia para dobrar a receita até 2027 baseia-se na diversificação de produtos (patrimoniais, agro, massificados), geográfica e de canais, mantendo o corretor como prioridade.
HDI: Diversificação e Personalização
O grupo HDI, que agora integra a Yelum (antiga Liberty), avançou na diversificação de seu portfólio. O CEO Eduardo Dal Ri explica que a integração com a HDI Global fortaleceu a atuação em grandes riscos e expandiu a presença em novas regiões. Destaques incluem a flexibilização do seguro auto, o lançamento do Yelum Bike Segura e a ampliação de coberturas em vida e empresarial. A companhia também aprimorou sua assistência própria, Fácil Assist. Para 2026, o foco será em personalização, inovação e tecnologia, sempre com atenção às necessidades dos clientes.
O Mercado de Resseguros e Capitalização
IRB(Re) e Austral Re: Fortalecimento e Potencial
O mercado de resseguros também está em um ciclo de fortalecimento. O IRB(Re), líder histórico, registrou um lucro líquido de R$ 262 milhões nos primeiros seis meses de 2025, um aumento de 82% em relação a 2024. A carteira de seguros patrimoniais cresceu 15% no segundo trimestre de 2025. A Austral Re também teve um lucro de R$ 35,4 milhões no primeiro semestre de 2025, um aumento de 28%, e vê grande potencial em seguro garantia e vida, apostando em oportunidades ligadas à transição energética e riscos climáticos.
Capitalização: Crescimento e Novas Aplicações
O setor de capitalização arrecadou R$ 16,9 bilhões nos primeiros seis meses de 2025, um aumento de 12%. A modalidade tem ganhado força com o uso de títulos como garantia em operações de crédito, contratos públicos e PPPs, atraindo novos públicos e interesse internacional, segundo Denis Morais, presidente da Fenacap. A Bradesco Capitalização, líder em 2024, destaca a multifuncionalidade dos títulos, que vão além da poupança programada, servindo como solução estratégica para empresas e expandindo ofertas digitais para pessoas físicas.
Fonte: Valor Globo

Astério Vieira é Diretor da Prime Valle, empresa fundada em 1996 e referência nacional em gerenciamento de riscos, seguros e logística. Com mais de 25 anos de experiência no setor, atua com foco em soluções para transporte, frota, danos ambientais e seguros aeronáuticos, oferecendo confiança e tranquilidade a pessoas físicas e jurídicas em todo o Brasil.