Roubo de joias no Louvre: por que não havia seguro?

Roubo de joias no Louvre: por que não havia seguro?

Você sabia que as joias roubadas do Louvre não estavam seguradas? Isso levanta questões importantes sobre a segurança e a proteção do patrimônio nacional. Vamos entender melhor essa situação.

Roubo no Louvre: O Tesouro Inestimável Sem Seguro

O Museu do Louvre, um dos maiores e mais importantes do mundo, foi palco de um audacioso roubo que chocou a comunidade cultural. Ladrões invadiram a Galeria Apollo, no segundo andar, e levaram joias da coroa que pertenceram à Imperatriz Eugénie, esposa de Napoleão III. Entre os itens subtraídos estavam tiaras, brincos e colares adornados com diamantes, safiras e esmeraldas — peças de um valor histórico e cultural que, para a França, são simplesmente insubstituíveis.

O Valor das Joias Roubadas e a Ausência de Indenização

Apesar de serem consideradas inestimáveis, o Louvre fez uma estimativa do prejuízo material: impressionantes € 88 milhões, o equivalente a cerca de R$ 550 milhões. Contudo, o museu não receberá qualquer indenização pela perda. A razão? Nenhuma das joias reais estava segurada.

Por Que o Estado Francês Não Contrata Seguro para Seus Tesouros?

A decisão de não segurar as coleções permanentes do Louvre, incluindo as joias roubadas, reside em uma política específica do governo francês. O Estado atua como seu próprio segurador para os maiores museus do país. Nicolas Kaddeche, diretor técnico da Hiscox Assurances France, uma das líderes no mercado de seguros para museus, confirmou que não havia apólice privada para as joias ou para qualquer parte do acervo permanente do Louvre.

Os Custos Proibitivos de Segurar um Acervo Gigantesco

O principal motivo para essa abordagem é o custo. Os prêmios de seguro para um acervo como o do Louvre seriam astronomicamente altos, superando até mesmo os investimentos em vigilância e a manutenção de uma equipe de segurança robusta. O Louvre, sendo o maior museu do mundo, abriga a Mona Lisa, a Vênus de Milo, mais de 35 mil obras de arte em exposição ao longo de 13 quilômetros de corredores, e outras 500 mil peças catalogadas em seus bancos de dados. Segurar um patrimônio dessa magnitude poderia custar bilhões de euros anualmente.

Um exemplo claro dessa realidade é o custo estimado para transportar a Mona Lisa em 2018 para o museu-irmão do Louvre em Lens: quase € 35 milhões apenas em seguro. Diante de valores tão expressivos, o governo francês conclui que é mais vantajoso assumir o risco diretamente, como também ocorreu com a Catedral de Notre-Dame.

A Proteção Legal das Coleções Nacionais

Na França, a questão do seguro de obras de arte é influenciada por dois fatores cruciais: a propriedade das obras e o local de exposição. As peças roubadas do Louvre são consideradas coleções nacionais, adquiridas pelo governo. Isso significa que elas estão sob a proteção do código do patrimônio francês, uma legislação que proíbe sua venda, doação ou transferência. Irène Barnouin, diretora de vendas e técnica para arte e clientes privados na WTW France, explica que essa condição as exclui dos contratos de seguro tradicionais.

Paralelos Internacionais: O Caso Smithsonian nos EUA

Essa prática não é exclusiva da França. Nos Estados Unidos, museus como o Smithsonian, cujas coleções permanentes são de propriedade do governo, também operam sob um modelo similar. O governo é considerado o “segurador de última instância”. Em caso de uma catástrofe, o Congresso americano poderia aprovar um repasse especial para cobrir a perda. No entanto, tanto na França quanto nos EUA, seguros específicos são contratados para exposições temporárias ou para o transporte de obras de arte, que são consideradas situações de risco elevado.

O Impacto na Segurança do Louvre e a Necessidade de Inovação

O roubo reacende as discussões sobre a segurança do Louvre, que já enfrentava preocupações e orçamentos apertados. Museus, em geral, tendem a priorizar o investimento em sistemas de segurança em detrimento da contratação de seguros. Peter Keller, diretor-curador do Musée de la Légion d’Honneur em Paris, ressalta que os criminosos são cada vez mais inovadores, exigindo uma constante melhoria nos sistemas de segurança. O próprio presidente do Louvre admitiu que o sistema de vigilância era “insuficiente” e defendeu a instalação de uma delegacia dentro do museu após o incidente.

Reações e Medidas Pós-Roubo

Após o assalto, o Louvre reabriu suas portas aos visitantes depois de três dias, enquanto a polícia intensifica a busca pelos criminosos e pelas joias. A investigação segue em andamento, com foco em desvendar o que pode acontecer com as peças roubadas, que podem ser usadas em lavagem de dinheiro ou no narcotráfico.

A Irrecuperabilidade do Patrimônio Histórico

Apesar de um seguro poder cobrir o valor financeiro para a criação de novas exibições ou aquisição de outras obras, a verdade é que as joias da coroa são insubstituíveis. Como afirmou Irène Barnouin, mesmo com uma indenização de € 88 milhões, “você jamais teria a mesma peça de volta”. A história e o simbolismo que esses objetos carregam consigo, uma parte intrínseca do patrimônio francês, estão perdidos para sempre. Este evento serve como um lembrete doloroso da fragilidade do patrimônio cultural e da constante necessidade de proteger esses tesouros para as futuras gerações.

Fonte: O Globo