Setor de seguros se prepara para a COP30 em Belém com novas iniciativas

Setor de seguros se prepara para a COP30 em Belém com novas iniciativas

O seguro desempenha um papel crucial na adaptação às mudanças climáticas. Neste artigo, vamos explorar como o setor se prepara para a COP30 em Belém e as inovações que estão surgindo para enfrentar os desafios climáticos.

O Setor de Seguros e a Crise Climática: Um Aliado Essencial

O setor de seguros está no centro do debate sobre as mudanças climáticas, atuando em uma dupla função: ele sente os impactos diretos dos desastres naturais e, ao mesmo tempo, oferece soluções cruciais para a adaptação. No último ano, eventos climáticos extremos causaram prejuízos globais de US$ 369 bilhões, dos quais US$ 145 bilhões foram cobertos por seguradoras. Esse cenário mostra que, sem o seguro, a conta da crise climática simplesmente não fecha.

A Reinvenção do Seguro Diante da Imprevisibilidade

A lógica tradicional do setor, que se baseava em dados históricos para calcular riscos, já não é suficiente. Dyogo Oliveira, presidente da Confederação Nacional das Seguradoras (CNseg), destacou que a imprevisibilidade do clima obriga o setor a se reinventar. O seguro precisa ser parte integrante do planejamento climático, e não apenas uma resposta pós-desastre.

A Casa do Seguro na COP30: Um Hub de Soluções

Em preparação para a COP30, que acontecerá em Belém, a CNseg promoveu um evento pré-conferência em Brasília, no dia 8 de outubro. O encontro reuniu representantes do governo, academia e iniciativa privada para discutir o papel do seguro nas políticas de adaptação e no financiamento climático. A Casa do Seguro, uma iniciativa da CNseg em parceria com dez seguradoras (Allianz, AXA, BB Seguros, Bradesco Seguros, Caixa Seguridade, MAPFRE, Marsh McLennan, Porto, Prudential e Tokio Marine), será um espaço vital durante a conferência.

Diálogo e Articulação em Belém

O embaixador André Corrêa do Lago, presidente da COP30, ressaltou a importância da presença do setor na conferência. A Casa do Seguro, com seus 1,6 mil m² de área útil, que inclui uma plenária para 100 lugares e seis salas de reunião, será um hub de conteúdo e diálogo, focando em ações concretas. O objetivo é integrar o seguro ao planejamento climático de diversos setores, garantindo que ele esteja na mesa desde o início da formulação das políticas de adaptação.

Dados, Inovação e o Futuro da Precificação de Riscos

A transição de um modelo que olha para o passado para um que antecipa o futuro exige uma base sólida de dados. No agronegócio, por exemplo, a falta de informações atualizadas sobre práticas sustentáveis e produtividade impede o desenvolvimento de novos produtos de seguro.

O Hub de Riscos Climáticos da CNseg

Para preencher essa lacuna, a CNseg anunciou a criação do Hub de Riscos Climáticos. A iniciativa visa reunir dados climáticos, geográficos e econômicos, servindo como um ponto de convergência entre seguradoras, governo e academia para apoiar a precificação e o desenho de novas coberturas.

Inteligência Artificial e Digitalização: Novas Ferramentas

A inteligência artificial (IA) é vista como uma aliada poderosa para lidar com a imprevisibilidade do clima, ajudando a prever cenários futuros. A digitalização, por sua vez, é fundamental para ampliar o acesso ao seguro. Júlia Normande Lins, diretora técnica da Susep, enfatizou que o problema não é a falta de conscientização, mas sim a carência de produtos adequados e uma melhor experiência para o consumidor.

Seguro Social de Catástrofe: Proteção para Famílias

Uma proposta em discussão é o Seguro Social de Catástrofe, voltado para famílias afetadas por enchentes e inundações. Com 1.690 ocorrências severas no Brasil só em 2024, essa solução busca reduzir a dependência do Estado, combinando mitigação, prevenção e cobertura de riscos, tornando o seguro um instrumento central de proteção social.

O Campo e a Resiliência: O Papel do Seguro Rural

O Brasil já sente os efeitos das mudanças climáticas no agronegócio, com ondas de calor, estiagens e chuvas intensas. O Seguro Rural é visto como uma ferramenta essencial para a sobrevivência do produtor, que, sem ele, terá dificuldades de se manter na terra nos próximos 10 a 15 anos.

Desafios e a Necessidade de Educação do Produtor

Especialistas apontam a necessidade de educar o produtor para que ele veja o seguro como um investimento em proteção e continuidade familiar, e não apenas como uma obrigação para obter crédito. Ricardo Sassi, da Sociedade Rural Brasileira (SRB), reforça que, sem o seguro, a permanência do produtor no campo se torna inviável.

Soluções Baseadas na Natureza (SBN) e Financiamento

As Soluções Baseadas na Natureza (SBN), como a recuperação de vegetação e a estocagem de carbono, também são cruciais. Aloísio Lopes, do Ministério do Meio Ambiente, destacou a importância de integrar o valor dos serviços ambientais às políticas públicas e mecanismos de financiamento, incluindo o seguro. Programas como o Fundo Clima e o Ecoinvest, que oferecem recursos para projetos de restauração, e os Pagamentos por Serviços Ambientais (PSAs) são incentivos importantes.

Cidades Resilientes: Protegendo Áreas Urbanas

Cidades com alta densidade populacional são particularmente vulneráveis a eventos climáticos extremos. Nos últimos dez anos, 94% dos municípios brasileiros declararam estado de calamidade ou emergência pelo menos uma vez. O Estado, muitas vezes, assume o papel de “grande segurador”, arcando com custos de reconstrução e assistência com orçamentos limitados.

O Programa Cidades Resilientes do BNDES e o Seguro Garantia

O setor de seguros propõe mitigar essa dependência. O BNDES, por exemplo, apresentou o programa Cidades Resilientes, que usa recursos do Fundo Clima para financiar projetos urbanos de adaptação. O Seguro Garantia também é fundamental, especialmente com a nova Lei de Licitações, que permite cláusulas de retomada, obrigando seguradoras a concluir projetos em caso de sinistro. Roberto Guimarães, da ABDIB, enfatiza que o Seguro Garantia é mais eficaz e barato que uma fiança bancária.

Mobilizando Capital para a Transição Climática

A mobilização de capital é essencial para a transição climática, com uma estimativa de US$ 1,4 trilhão por ano até 2035 para países emergentes. O Ministério da Fazenda apresentou o Plano de Transformação Ecológica, que busca destravar investimentos em transição energética e bioeconomia, com o programa Ecoinvest podendo mobilizar até R$ 70 bilhões em capital privado.

Sinergia entre Setores Financeiros

A embaixadora Tatiana Rosito, do Ministério da Fazenda, destacou a liderança do Brasil no Círculo de Ministros das Finanças para a COP30, que visa mobilizar US$ 1,3 trilhão. A sinergia entre bancos, fundos e seguradoras é crucial. A Febraban, Anbima e CNseg atuam na Taxonomia Sustentável Brasileira para dar segurança regulatória. Amaury Oliva, da Febraban, informou que cerca de 21% do crédito corporativo já vai para a economia verde, e que o seguro, ao reduzir incertezas, ajuda a baratear o custo do capital. A Anbima, que representa uma indústria de fundos de R$ 10 trilhões, também padroniza títulos sustentáveis. Maria Neto, do Instituto Clima e Sociedade (iCS), complementou que o seguro pode securitizar carteiras e criar escala para a emissão de títulos, além de oferecer proteção de preço, como a do carbono.

Rumo a Belém: O Seguro como Infraestrutura da Transição

O consenso é que o seguro deve evoluir de um modelo de reparação para um ativo de prevenção e adaptação. Ao reduzir incertezas, o seguro diminui o custo de capital e atrai investimentos privados, um ponto central para o financiamento climático. Dyogo Oliveira, presidente da CNseg, afirmou que “o seguro é a infraestrutura da transição”, dando previsibilidade e confiança a projetos sustentáveis. A Casa do Seguro em Belém, com sua programação de conteúdo e iniciativas de responsabilidade social, será um ator-chave nessa agenda, operando com conceitos de evento neutro e resíduo zero.

Fonte: Capitalreset.uol.com.br