Latú encerra operações e levanta questões sobre o mercado de seguros

Latú encerra operações e levanta questões sobre o mercado de seguros

A insurtech Latú encerrou suas operações, levantando questões importantes sobre o futuro do mercado de seguros. O que isso significa para as startups e PMEs?

O Fim da Latú Seguros e o Despertar do Mercado

O setor de seguros, apesar de algumas inovações, ainda caminha a passos lentos na era digital. Enquanto nomes como Youse e Azos conseguem captar olhares e investimentos, o domínio das grandes seguradoras permanece forte. Nesse cenário competitivo, algumas startups não resistem, e a mais recente a sair de cena é a Latú Seguros, que confirmou o encerramento de suas atividades. A notícia, divulgada em 25 de setembro de 2025, levanta discussões importantes sobre a maturidade do segmento.

A Trajetória da Latú: Do Início Promissor ao Desfecho

A Latú Seguros foi criada em 2022 com uma proposta clara: oferecer seguros B2B, especialmente contra ameaças cibernéticas. Sua abordagem inovadora rapidamente chamou a atenção, prometendo uma disrupção no mercado.

Um Começo com Grande Apoio Financeiro

Em apenas dois meses de operação, a Latú conseguiu um feito notável: levantou US$ 6,5 milhões em uma rodada pré-seed. Esse investimento robusto veio de grandes nomes do mercado, com a liderança da Monashees e da Charles River Ventures (CRV). A rodada também contou com a participação de ONE.VC, Latitud e SVAngels, demonstrando a confiança inicial no potencial da insurtech.

A Virada de Rumo e o Encerramento das Atividades

Apesar do bom início, o cenário mudou. Até o começo de 2025, a empresa, sob a liderança da CEO Paola Neira, planejava uma nova captação para aprimorar seus produtos e expandir. Contudo, essa rodada de investimentos não se concretizou. Em agosto de 2025, a Latú começou a notificar seus segurados sobre a descontinuação das operações. A empresa garantiu que “todas as apólices existentes foram tratadas de forma individualizada, visando garantir a plena continuidade da cobertura e o atendimento sem qualquer prejuízo para os segurados e corretores envolvidos”. Recentemente, o site da companhia removeu todo o conteúdo institucional, exibindo apenas uma mensagem de agradecimento e contato para “assuntos pontuais”.

O Desafio do Mercado Brasileiro para Seguros Cibernéticos

Um especialista do setor de segurança, que preferiu não se identificar, apontou um fator crucial para o fim da Latú: a falta de maturidade do mercado brasileiro para seguros cibernéticos, especialmente para PMEs e startups. Ele explicou que “poucas PMEs ou startups se preocupam com seguro cyber. Só quando alguém cobra”. Essa realidade contrasta com o cenário global, onde os Estados Unidos dominam o mercado de seguros cibernéticos, detendo 53% do share global, conforme um estudo da Mordor Intelligence. Na América Latina, a baixa quantidade de startups agrava a situação, tornando o nicho ainda menor.

O Desabafo da CEO: Preço Acima da Proteção

Mesmo com a discrição em torno do encerramento, a ex-CEO Paola Neira já havia expressado suas preocupações com o mercado de seguros. Em um post no LinkedIn em junho de 2025, ela criticou a obsessão por preços baixos, que impede os consumidores de entenderem a cobertura real de suas apólices. “Todo mundo só foca no preço mais baixo, ninguém quer mergulhar nos detalhes”, escreveu Paola. Ela lamentou a falta de incentivo para escolher uma proteção eficaz, resumindo a situação como um “ciclo vicioso” focado apenas no preço.

O Contraste com Outras Insurtechs

Enquanto a Latú enfrentava seus desafios, outras insurtechs, como Youse e Azos, continuam a se destacar e a atrair investimentos. Isso mostra que, embora o mercado seja complexo, há espaço para inovação e crescimento, desde que as propostas encontrem um terreno fértil e uma demanda consolidada.

Reflexões sobre a Maturidade do Setor de Seguros

O caso da Latú Seguros serve como um alerta para o ecossistema de insurtechs. Ele evidencia que, apesar do potencial de disrupção, o mercado de seguros, especialmente no Brasil, ainda tem um longo caminho a percorrer em termos de maturidade e aceitação de produtos mais especializados, como o seguro cibernético para PMEs. A fala da ex-CEO Paola Neira ressalta a necessidade de uma mudança cultural, onde o valor da proteção seja priorizado sobre o custo.

Lições Aprendidas e o Caminho Adiante

O encerramento da Latú Seguros é um lembrete de que inovar em mercados tradicionais exige mais do que apenas capital inicial. É preciso entender profundamente as necessidades do cliente, educar o mercado e, talvez, adaptar as ofertas a uma realidade onde a percepção de valor ainda está em construção. Para as futuras insurtechs, a lição é clara: a disrupção deve vir acompanhada de uma estratégia robusta para superar as barreiras culturais e de demanda, garantindo que a inovação realmente encontre seu espaço e gere impacto duradouro.

Fonte: Startups